terça-feira, 28 de abril de 2009

Caridade

CARIDADE

A ninguém se nega uma punheta
a ninguém se diz não
só por dizer

Prò meu margalho não peço uma chupeta
sou educado, tenho educação
não peço a ninguém p'ra me foder

Uma mãozinha, uma simples mão
é caridade que a ninguém se nega
mais do que gesto, é obrigação

A ninguém se nega uma punheta
tanto faz no meio da refrega
ou na paz dos anjos, que é sempre treta

Mãos no caralho, que já se faz tarde
e toca a esgalhar ao ritmo do tambor
uma punheta bem batida arde

Boa punheta, em todo o seu fulgor
é caridade, é gesto de magia
uma punheta bate-se em cada dia.


Dick Hard, 23/6/2008 (07h40m)

Poema incluído no terceiro volume da "Trilogia Falo-Erectiva": "De boas erecções está o Inferno cheio" (Polvo, 2004), "De boas erecções está o Inferno cheio, king kong size, edição especial para masturbadores" (edição de autor, 2007)" e "De boas erecções está o Inferno cheio, o Céu pode esperar, edição especial para leitores normais", inédito) .



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DICK HARD: UMA POESIA DO CARALHO E SUAS VERTENTES MORAVIANAS


Qualquer semelhança entre o poema "Caridade" e a realidade não é mera coincidência. Quero penhoradamente agradecer à fonte de inspiração do autor, que muito antipaticamente se recusou (a fonte) a dar uma mãozinha numa época de hirta ansiedade. E assim se prova que uma nega pode ser positiva. A arte é muitas vezes fruto das contrarieades da vida.

Esta temática é aflorada no livro "Eu e ele", de Alberto Moravia. O protagonista, super-dotado em termos de Mister Falo, pretendia abdicar do sexo para que a sua arte atingisse o sublime. Queria ser um "sublimado", sacrificando o sexo ao obectivo artístico. Mas o seu falo ("Federicus Sex", o "ele" do livro, um tarado sexual da pior espécie) pressionava o seu dono a todo o momento para que ele não abdicasse do sexo.

No final, se bem me lembro, apesar de não me chamar Vitorino, nem ser açoriano, o protagonista aceita com fatalismo árabe que há-de ser eternamente um dessublimado. Pelo meio, ainda "levou no pacote" de um suposto amigo revolucionário, que a pretexto da libertação intelectual e de nobres princípios libertários ia dando escape às suas pulsões activamente gay.

Isto deu filme, que Luís Graça viu no Condes. Escapatório e que passou discretamente pelo ecrã da mítica sala de Lisboa, hoje Hard Rock Café.

Permitam-me destacar, com particular carinho, algumas linhas da página 133. Na versão do senhor "Ele", a mãe do protagonista vem aconchegar as roupas do filho adolescente (mas já dotado como um John Holmes ou Rom Jeremy), a sofrer de tesão, com dificuldades para adormecer.

E movendo "o cotovelo com incontida violência alcança ao fim de poucos segundos o resultado que se imaginava" (cito de cor, o livro está 2 metros e meio acima da minha cabeça, não tenho aqui o escadote e não me está a apetecer empoleirar-me).

O protagonista refuta a versão da masturbação voluntária da mãe e diz que tudo foi um sonho. Ou quer convercer-se disso. Estamos em presença de uma narrativa aberta, como em "Os Maias", de Eça de Queiroz.

Eu, abaixo assinado, Rick Dart, posso conformar que Luís Graça ficou hito que nem o penedo da saudade quando leu a cena. Para além dos méritos literários, aquilo perturbou-o. E suspendeu a leitura por momentos. Foi à casa de banho lavar a cara e voltou para continuar a ler o livro.

Suspense: Luís Graça masturbou-se à conta de Moravia, nesses maravilhosos idos de 80, nos tempos de adolescente universitário, de rendimento escolar miserável? Ou regressou à cama para ler, tão hirto como saiu dela a caminho do WC?

Caso tenha existido masturbação, a questão que se coloca é a seguinte: foi o escritor Luís Graça que se masturbou, o Luís Graça que muito legitimamente se limitou a reagir a um estímulo, ou algum heterónimo do autor?

Sabendo-se que Dick Hard ainda não existia (eu mesmo, Rick Dart, mão tinha nascido) a única possibilidade contempla os heterónimos de Luís Graça que já existiam desde o Verão de 1977.

O português Lizafonso Almeidinha, o italiano Luigi Grazianni (mais tarde colaborador do jornal "Duas Rodas"), o alemão Ludwig Von Grazen (filho do reputado Coronel Von Grazen, um português nascido na Amazónia e veterano de vários "tour of Duty" por todo o império colonial português, declamador de Bocage, jogador de rãguebi na Académica, guarda-redes da equipa militar de Zemba, com direito a sofá dentro da baliza, devido ao facto de ser comandante do aquartelamento de Zemba. O que lhe valia a troça dos inimigos. Que assistiam aos jogos da tropa portuguesa a partir dos morros, não se inibindo de torcer por uma das equipas, naqueles jogos que não eram mesmo de vida ou de morte) ou outro?

Referimo-nos ao francês Louis Alphonse, ao russo Luisiov Grassianov ou ao inglês Lewis Grace, ainda talvez vagamente aparentado de Lewis Grace, o editor de "A mulher que fazia recados às putas e mais contos perversos", amigo da stripper eslovaca Lolly Pop, participante no Salão Internacional Erótico de Lisboa de 2006.

Resumindo: houve ou não punheta, nessa noite quente de 1982 ou 1983?

O importante é saber o que Moravia nos ensina: a ninguém se nega uma punheta. Principalmente quando ao Amor de Mãe se junta o amor de mão.

Rick Dart, 5/4/2009, a partir da ilha polinésia de Embora-Embora Ke-Vai-Começar-o-Futebol & já bebia mais um "Deus de Fogo", um "Escorpião" ou um "Vulcão Tropical". Há que ter um rum na vida.



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